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sexta-feira, 10 de julho de 2015

De pedra e flor


carrego flores
mas não carrego flores 
somente.

vês o colorido em minha lapela
e não pões reparo nos bolsos de trás.
é lá que guardo todo cascalho
que me esfolia as vontades no caminho.

não é a flor, mas o grão de areia.
não é a flor, mas o seixo.
não é a flor, mas a pedra de cantaria.
isso é o que me desafia a ser quem sou.

quinta-feira, 2 de julho de 2015

Tempos de madrugar

Portinari

hoje eu tenho medo dos anos.
dos nossos primeiros anos.
daqueles que ainda estão fora da lei.
daqueles que continuam no ponto cego
dos olhos turvados da educação.

acordem, crianças!
o recrutamento começará mais cedo.

De que se veste o amor - 2


quinta-feira, 25 de junho de 2015

De que se veste o amor


Sol ardente

Sol ardente | Van Gogh

vejo o dia cuspindo labareda
na tela onde você se arrisca
a fazer solo de pincel.
imóvel como mulher antiga
esperando cortejo,
faço uma reza e desenho plano
de apagar incêndio porque sei:
o mesmo sol que bronzeia arde.

Passa, mas não passa


todo amanhecer é um juntar de histórias.
o que aconteceu um dia não passa nunca.
o que passa [devagar como andor
em procissão de morto grande
ou num ligeiro de colibri a cortejar fêmea]
é a dor do sangue vertido em cada ato
é a sensação do gozo que foi alcançado.
todo amanhecer reúne vozes antigas.
o que aconteceu um dia não passa nunca.
mas passa.